Já estava quase claro e quase perto. E aí não ia ser tão perigoso fazer aquele caminho, nem tão amedrontador largar aquela mão. Aqueles dedinhos tão gelados que pediam um olhar que os aquecesse... E ela ali, obrigada a fechar os olhos pra eles, sem nem uma lágrima permitida de explicação.
Acordava em desespero tantas vezes, como se ele ainda fosse um embrulhinho, uma presa mal protegida na cesta e nos lençóis da noite fria. Como se nunca tê-lo adotado fosse tão cruel quanto o drama daqueles pesadelos em que ela o abandonava na noite, dedos frios sem abraço. Os dedos que depois ficaram ágeis e os olhinhos brilhantes de novas perguntas, novas fantasias. Quantos anos já teria? Quantas vezes ele ainda lembraria sua prece, aquela mesma que ela lhe repetiria para sempre em frente ao berço vazio? Depois daquele adeus doído e largo, o colo dela nunca mais seria o mesmo.
E rezava aos anjos que se ninguém - Deus do céu! - se ninguém mais se lembrasse de contar-lhe alguma história e colecionar coisas lindas com afagos nos cabelos lisos... Que os querubins o protegessem e trouxessem nos seus sonhos notícias gostosas do céu. Ele pelo menos saberia quando foi que o menino Jesus desceu por aqui e jogou bola.
Estava tão perto agora e o peito doía. Quão crescida seria sua angústia quando os visse assim, gentes-grandes e sem nenhum traço de lembrança dela? Viu de longe o mais velho, tão diferente e sentiu o conhecido golpe de ciúme. Aquele não era seu, nunca fora. Asas de águia o amparavam agora e a ela não era permitido carinho nenhum. E o pequeno? Às vezes achava um espaço escondido no ninho, mas era difícil. Estava quase claro... e muito perto. Ela preferiu ir embora antes que conseguisse ver, antes que ele mal-entendesse a sua saudade.
Era um desses Amores tão grandes...
Já não podia chorá-lo sem que escorresse a alma pelo rosto...
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