O céu de um azul rasgado, bonito de doer os olhos. A única nuvem ao longe, longíssimo, é como miragem pros meus lábios rachados de deserto, imaginação da sede...
E bem ali, no entre tanto, entre a casa e os livros, há árvores que pingam. Sem pássaros nos galhos, sem orvalho da manhã, sem rasto de nuvem no céu...
E só naquele pedaço de caminho, bem ali no meio de onde o sol escorrega e nos derrete, uma sombra com pequenas poças que não param de aumentar marca a passagem.
São árvores com flores bonitas.
Mas em pleno dia de céu azul,
A despeito dos sonhos de frutos deliciosos,
escorrem-lhes lágrimas.
Adivinho que vieram de longe:
choram raízes.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Volta
Dias em que a vontade é de ignorar todas as recomendações e ficar bem ali também, pequena e quieta. Agarrada no portão, de olhos grudados na rua, esperando um carro conhecido aparecer.
Vontade de pausar o agora pra poder organizar o antes e o depois que ficam zanzando entre os pensamentos, de ignorar a correria e o barulho que voam bem ali, nas costas. E deixar a lição de casa pra um depois que seja antes do boletim ou do próximo ano, mas que aguente pelo menos esperar a hora do lanche.
Dias em que dá medo e quem sabe angústia, apesar de ser palavra difícil pra essa hora de criança.
Mas aí, bem nessa hora em que eu me deixo escorregar nas vontades por dois segundos ou quem sabe três... Uma voz familiar aparece camuflada de sussurro ou gargalhada, e traz de volta - ou pelo menos até o meio do caminho - pro tal portão em que "na vida real" um carro conhecido não vai aparecer. É que a gente sempre pode fazer de conta...
Finge que alguém vem me buscar. Aí a vozinha me resgata lá naquele segundo de quase-lágrima:
"Vem brincar com a gente que a mamãe chega mais rápido!"
Vontade de pausar o agora pra poder organizar o antes e o depois que ficam zanzando entre os pensamentos, de ignorar a correria e o barulho que voam bem ali, nas costas. E deixar a lição de casa pra um depois que seja antes do boletim ou do próximo ano, mas que aguente pelo menos esperar a hora do lanche.
Dias em que dá medo e quem sabe angústia, apesar de ser palavra difícil pra essa hora de criança.
Mas aí, bem nessa hora em que eu me deixo escorregar nas vontades por dois segundos ou quem sabe três... Uma voz familiar aparece camuflada de sussurro ou gargalhada, e traz de volta - ou pelo menos até o meio do caminho - pro tal portão em que "na vida real" um carro conhecido não vai aparecer. É que a gente sempre pode fazer de conta...
Finge que alguém vem me buscar. Aí a vozinha me resgata lá naquele segundo de quase-lágrima:
"Vem brincar com a gente que a mamãe chega mais rápido!"
sábado, 2 de outubro de 2010
Maternal
Já estava quase claro e quase perto. E aí não ia ser tão perigoso fazer aquele caminho, nem tão amedrontador largar aquela mão. Aqueles dedinhos tão gelados que pediam um olhar que os aquecesse... E ela ali, obrigada a fechar os olhos pra eles, sem nem uma lágrima permitida de explicação.
Acordava em desespero tantas vezes, como se ele ainda fosse um embrulhinho, uma presa mal protegida na cesta e nos lençóis da noite fria. Como se nunca tê-lo adotado fosse tão cruel quanto o drama daqueles pesadelos em que ela o abandonava na noite, dedos frios sem abraço. Os dedos que depois ficaram ágeis e os olhinhos brilhantes de novas perguntas, novas fantasias. Quantos anos já teria? Quantas vezes ele ainda lembraria sua prece, aquela mesma que ela lhe repetiria para sempre em frente ao berço vazio? Depois daquele adeus doído e largo, o colo dela nunca mais seria o mesmo.
E rezava aos anjos que se ninguém - Deus do céu! - se ninguém mais se lembrasse de contar-lhe alguma história e colecionar coisas lindas com afagos nos cabelos lisos... Que os querubins o protegessem e trouxessem nos seus sonhos notícias gostosas do céu. Ele pelo menos saberia quando foi que o menino Jesus desceu por aqui e jogou bola.
Estava tão perto agora e o peito doía. Quão crescida seria sua angústia quando os visse assim, gentes-grandes e sem nenhum traço de lembrança dela? Viu de longe o mais velho, tão diferente e sentiu o conhecido golpe de ciúme. Aquele não era seu, nunca fora. Asas de águia o amparavam agora e a ela não era permitido carinho nenhum. E o pequeno? Às vezes achava um espaço escondido no ninho, mas era difícil. Estava quase claro... e muito perto. Ela preferiu ir embora antes que conseguisse ver, antes que ele mal-entendesse a sua saudade.
Era um desses Amores tão grandes...
Já não podia chorá-lo sem que escorresse a alma pelo rosto...
Acordava em desespero tantas vezes, como se ele ainda fosse um embrulhinho, uma presa mal protegida na cesta e nos lençóis da noite fria. Como se nunca tê-lo adotado fosse tão cruel quanto o drama daqueles pesadelos em que ela o abandonava na noite, dedos frios sem abraço. Os dedos que depois ficaram ágeis e os olhinhos brilhantes de novas perguntas, novas fantasias. Quantos anos já teria? Quantas vezes ele ainda lembraria sua prece, aquela mesma que ela lhe repetiria para sempre em frente ao berço vazio? Depois daquele adeus doído e largo, o colo dela nunca mais seria o mesmo.
E rezava aos anjos que se ninguém - Deus do céu! - se ninguém mais se lembrasse de contar-lhe alguma história e colecionar coisas lindas com afagos nos cabelos lisos... Que os querubins o protegessem e trouxessem nos seus sonhos notícias gostosas do céu. Ele pelo menos saberia quando foi que o menino Jesus desceu por aqui e jogou bola.
Estava tão perto agora e o peito doía. Quão crescida seria sua angústia quando os visse assim, gentes-grandes e sem nenhum traço de lembrança dela? Viu de longe o mais velho, tão diferente e sentiu o conhecido golpe de ciúme. Aquele não era seu, nunca fora. Asas de águia o amparavam agora e a ela não era permitido carinho nenhum. E o pequeno? Às vezes achava um espaço escondido no ninho, mas era difícil. Estava quase claro... e muito perto. Ela preferiu ir embora antes que conseguisse ver, antes que ele mal-entendesse a sua saudade.
Era um desses Amores tão grandes...
Já não podia chorá-lo sem que escorresse a alma pelo rosto...
Pequena Lis
Um sol brincando de lua em plena manhã
Ou talvez fosse a lua tardia. Só pra dizer que o inverno passava...
e as rosas estavam a caminho de abrir um tanto mais, no dia depois.
Pra vocês que conhecem o cheiro do amarelo e os sons dos sonhos
Eu desejo dias com banhos de chuva e sorvete
E outros tantos de borboletas e raios de sol!
Sê bem vinda, primavera... a deserto do inverno não precisa ser eterno
Ou talvez fosse a lua tardia. Só pra dizer que o inverno passava...
e as rosas estavam a caminho de abrir um tanto mais, no dia depois.
Pra vocês que conhecem o cheiro do amarelo e os sons dos sonhos
Eu desejo dias com banhos de chuva e sorvete
E outros tantos de borboletas e raios de sol!
Sê bem vinda, primavera... a deserto do inverno não precisa ser eterno
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