segunda-feira, 26 de abril de 2010

Boneca de Plano

Ela ri de mim, mas é com ternura. Os cabelos de são mais de pôr-do-sol do que de fogo mas isso também pode ser desvio do meu olhar, suspeito. Quero voltar pro sonho, esquecer da hora e afogar nas cobertas mas o dia lá fora tá tão bonito! As palavras não conseguem acompanhar a velocidade dos batimentos e haja cérebro pra tanto coração...
Com olhos de espelho, ela me cochicha uma vontade louca e desenfreada de escrever, de pintar, de sair pra colher poesia no jardim do vizinho ou rodar o mundo de bicicleta. E nada falha, porque eu levanto apesar da vontade de mais feriado, e se desnorteio não é de agonia nem de tédio, é que talvez essa coleção de céus deixe a gente suspenso em alguma daquelas dimensões insanas do êxtase. A vontade de sol não é menor do que a de lua ou de sofá... De repente, tudo é conquista! Do filme em francês ao trabalho novo, das crianças à poesia portuguesa. E até o fim do mundo pode ser uma boa descoberta.
"Às vezes a gente precisa aprender a desexistir, que é pra poder existir melhor depois"
O vestido florido, as tranças de flor-de-Lis. Acho que sei seu nome! Eu adivinho em mim a sua gargalhada colorida e a sua lista de coisas lindas crescente, pedaços de poesia constroem todo o seu corpo e ela me protege da saudade.
O pontinho roxo parece acompanhar os batimentos acelerados... E o tom de azul no céu confirma o que eu aprendi há tanto tempo "Longe é um lugar que não existe". Passo o dia voando planos, distribuindo abraços, catando pedaços de bonitezas pra enfeitar os meus passeios e as minhas aulas. O sonho continua ali, do outro lado da rua: e por que não atravessar?
Costurada de vontades, de saudades e euforias, ela me vigia o sono e me defende dos fantasmas.
Com toda essa candura, como podia ser laranja-fogo?
As fitinhas na ponta das tranças... ela anuncia os meus planos da semana que vem e os da próxima década. Uma coleção delas! E outra de cheiro de borboletas
"Et on se prend la main, comme des enfants
Le bonheure aux lèvres un peu naivement
Et on marche ensemble d'un pas décidé
alors que nos têtes nos crient de tout arrêter"
(Comme des Enfants -Coeur de Pirate)
Ufa, que esses meios e caminhos são poderosos! E eu me fantasio inteira desses panos e planos, viro lágrima, boneca e palhaço... ponto de interrogação.
Por que tão confuso? Pra dar a graça
(ou talvez pelo mesmo motivo do laranja nao ser fogo... esse tal de olhar apaixonado é danado de por mel nas coisas que a gente acha!)

2 comentários:

Alex Bretas disse...

La nostalgie n'est plus ma taille.

solfirmino disse...

Olá! Você deixou um comentário no meu blog http://manoeldebarros.blogspot.com sobre o livro Face Imóvel. Eu tenho os poemas relativos a esse livro na antologia "Gramática expositiva do chão - Poesia quase toda", que foi publicado em 1990.
Do que você está precisando? São 14 folhas, qualquer coisa posso escanear...