segunda-feira, 1 de março de 2010

Apenas por esse motivo

Outro dia ele escreveu só pra poder dormir. Hoje é pra poder respirar.


Porque no meio do caminho, a tinta espalhada no chão daria uma boa fotografia a quem soubesse ver. E o bar, e a praça e a ausência de portões que me recebe familiar apesar da distância em que meus olhos vagueiam... tudo dariam boas histórias, boas figuras, talvez. Mas provavelmente não me dariam hoje uma palavra que valha qualquer pedaço de coisa.
No meio do caminho, um ipê fora do tempo cobre o chão da minha cor preferida e o mundo de agora me abraça, me apressa pela mão, me requer aqui de corpo inteiro. Mas eu respiro um segundo e, numa frequência que nenhum outro ouvido captaria, o mundo que deveria dormir ainda me cochicha uma insônia. Não é nem muito pirracento esse meu mundo que ficou ali antes do meio, ele só... não queria dormir de novo agora, perdeu o sono.
E eu? Viva demais nessa metáfora disconexa, tentando me reconectar em algum dos lados. Eu sou uma fonte de saudades que, de um lado se sanam e d'outro se expandem. Mas isso é só até trocar de universo outra vez e inverter toda a lógica, e inventar outro jeito.
Hoje é só pra poder respirar e dar ao francês a pronúncia certa. É só um dizer de que esse ódio e esse medo não me pertencem, e de tão despertencidos eles nem me encostaram mas nunca foi feliz ver um sonhador de sorriso apagado. Pode até ajudar a lembrar que os instantes mais lindos se acabam e nem por isso perdem o encanto... Que eu vivo louca e inteira de metáforas e gargalhadas infantis, mas não sei como guarda mágoa minha nem de outro e não vou aprender agora. Pode até ser que ajude ou só piore, que reverta qualquer coisa de sagrado. Tanto faz.
Eu levei um tempo de vôo pra aprender que tem que pôr a máscara de oxigênio em você mesmo antes de ajudar
E hoje... é só pra poder respirar
Apenas por esse motivo

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