Esbarrou.
E rezou pra que não fosse o fim do mundo.
Estava aprendendo a lidar com aquilo, repetindo incessantemente o pensamento quase independente do cérebro “Pode ser assim. Abdicar, tudo bem”. Queria se convencer de que era normal, que conseguiria se livrar dos pensamentos, dos suspiros, das dúvidas... A alma fica de fora do pacote. O coração disparado não vem ao caso. Nada de drama.
Concentrar em tocar só com as unhas, com vontade e sem carinho. Sem paixão, afeto, bem-querer. Com o querer só, purinho de tudo, o desejo lá do jeito que se pudesse concebê-lo e pronto. Com os hormônios e as unhas, só. No máximo, permitia-se que os cabelos voassem pra um lado ou outro.
As regras não estavam escritas em estatuto ou assinadas em ata, não estavam em lugar nenhum: elas eram simplesmente.
Tinha parado até o pensamento e ignorado o coração ao máximo, pra poder se concentrar no toque. Unhas apenas. Mas aí errou na mão... A medida falhou, um hormônio apareceu no lugar errado, uma célula viva demais quis agir, quis fazer parte do que não podia. Encostava quase calculando os espaços, muito metodicamente.
Acontece que quando se trata da essência, não há método que resolva.
E a essência estava emburrada, nem um pouco convencida pela frase repetida, pelas regras, pela rigidez das unhas. Aí esbarrou.
Sentiu com a pele. Um milionésimo de segundo. Não podia se envolver.
Esbarrou.
E rezou para que não fosse o fim do mundo. Não era. Mas ficou sem.
Um comentário:
arranhando, desbravando com os dentes o que nao passa de profundidade cutânea, mais rasa do que a gente esperava. ainda assim, debaixo da unha sempre sobram pedaços do que eu queria.
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