E aquele maldito cheiro de cravos espalhados pela madrugada que sufocavam mais que o choro...
"Eu não sabia que ele iria embora. Quer dizer... eu podia ter avisado ou (não, não havia nada que ela pudesse ter dito, na verdade) quem sabe eu..."
e os soluços entre balbucios eram uma tentativa desesperada de reaprender a respirar:
"Quem sabe se... se eu soubesse... teria dado um... um abraço mais forte, um olhar mais insistente. Eu só queria ter tido o tempo de dizer qualquer coisa... qualquer coisa mais interessante do que meias sujas. Você entende? Ele estava ali tão ausente e com os pés tão sujos do desprezo pelo caminho que... eu só consegui falar das meias. Não queria que se perdesse nos passos e agora..."
Pra falar a verdade, não tinha faltado tempo, mas espaço. Ele enchera tanto a cabeça e os ouvidos daquele drama, daquela desvontade de qualquer coisa que palavra nenhuma entraria. Já nem adiantava falar, porque ele insistia tanto em repetir todas as coisas que maldissera a vida inteira que rasgara os tímpanos. Agora só sabia ouvir o que sua tristeza inventasse.
E ela ficou ali, acariciando os pés sujos e descalços do cadáver. Ele tinha um par de meias brancas nas mãos. Mas de que adiantava ter aprendido a lavar as meias?
Justo ele que morrera da falta de vontade de andar...
Um comentário:
Preciso de 14 novos pares de meia. Todas ficam sujas quando são usadas.
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