terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cinzas

E aquele maldito cheiro de cravos espalhados pela madrugada que sufocavam mais que o choro...

"Eu não sabia que ele iria embora. Quer dizer... eu podia ter avisado ou (não, não havia nada que ela pudesse ter dito, na verdade) quem sabe eu..."

e os soluços entre balbucios eram uma tentativa desesperada de reaprender a respirar:

"Quem sabe se... se eu soubesse... teria dado um... um abraço mais forte, um olhar mais insistente. Eu só queria ter tido o tempo de dizer qualquer coisa... qualquer coisa mais interessante do que meias sujas. Você entende? Ele estava ali tão ausente e com os pés tão sujos do desprezo pelo caminho que... eu só consegui falar das meias. Não queria que se perdesse nos passos e agora..."

Pra falar a verdade, não tinha faltado tempo, mas espaço. Ele enchera tanto a cabeça e os ouvidos daquele drama, daquela desvontade de qualquer coisa que palavra nenhuma entraria. Já nem adiantava falar, porque ele insistia tanto em repetir todas as coisas que maldissera a vida inteira que rasgara os tímpanos. Agora só sabia ouvir o que sua tristeza inventasse.

E ela ficou ali, acariciando os pés sujos e descalços do cadáver. Ele tinha um par de meias brancas nas mãos. Mas de que adiantava ter aprendido a lavar as meias?

Justo ele que morrera da falta de vontade de andar...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Times Square

É a tal da ''velha proposta de ano novo''. É válida, eu creio.
Juras pra lá, promessas pra cá... Atos comuns. Eu não os fiz. Só quero que seja diferente. Quem sabe melhor ou até pior, mas diferente. Ás vezes o coração precisa da mudança pra bater melhor; precisa do susto pra ficar atento; precisa da dor pra saber amar. É confuso falar do novo como sendo o velho ou vice-versa.
O mundo se prepara pra vida nova e minha vida se prepara pro mundo novo. A partida está dada. O resto é por nossa conta.

Mau

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Oceano

Minha pele está me escondendo.
Eu tento fugir e não consigo.
Vou cavando, cavando, cavando.
Não acho a saída.

Me solta!
Não quero seguir seu caminho.
Isso não é meu!
Me solta!
---
Eu quero uma canção.
Quero a alegria de cantar.
Eu consigo cantar.
Eu sei cantar.

Meu caminho está livre.
Estou indo.
Minha silhueta é pequena.
Estou livre.


Mau

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Eu grito!