Quando chegou a minha vez, tinha só uniforme e voz de sonho. Tinha, na verdade, um desejo qualquer e pueril de sentir de perto o cheiro daquele sorriso. E o livro pra ela autografar?
Não tinha livro. Tinha eu, menina, eufórica, de joelhos. Nem haver não havia. Tinha mesmo. Naqueles dois minutos, era ter, com sujeito. Dela o meu ajoelhar sem suplício, com êxtase só defronte a cadeira. Era dela e da poesia, mas era pessoal - por isso tinha sem haver.
"Me dá uma palavra?"
"Uma palavra?"
"É... eu queria pedir (e aí já tava pedido!)..."
Sem se aborrecer, ela foi digna do Asteróide B612 e ficou procurando o carneiro ou a caixa que ia me desenhar, bem séria.
"Uma só? Que difícil!"
Num pedaço de papel rasgado e muito mais dentro do brilho que ela deixou cair nos meus olhos,
eu trago um autógrafo lindo e dois dos presentes mais encantados que já recebi. Depois de muito pensar, ela deixou escorrer mais um sorriso que eu guardo dentro da caixa e tento ao mesmo tempo espalhar de novo:
amor e gentileza.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Bibbedy bobbedy bee bee
Ao barulho da chave girando na porta, ela levantou a cabeça dolorida da pilha de livros e se deu conta do avanço da hora: dormira entre as páginas, esquecida da falta de tempo. Estava tentando descobrir se dizia boa noite ou bom dia mas mal abriu a boca, ele gritou:
_ Não me manda estudar!
_ Mas... eu não ia...
_ Eu já trabalhei hoje o dia inteiro, não tá bom? Não serve pra você?
Bateu a porta com força, e ela zonza, sem entender o que acontecia. Queria só cumprimentar, que grosso!
Pegou o telefone pra tentar com alguém alguma conversa decente, qualquer que fosse aquela hora e ficou horrorizada: ouviu jorrarem números e termos técnicos pela sua boca afora, sem que tivesse o menor controle das próprias palavras. Tentou explicar que entendia que ele quisesse mais aventura ou pelo menos mais movimento pros sábados à noite, ela entendia, de verdade, talvez até quisesse também e tanto! Era só que prova trabalho relatório reunião agenda horário remarcar cinco prazo cronograma exame tabela futuro regra lembrete caderno comida material dúvida contrato conta promessa contemplação projetos doença
_ AI! Olha, desculpa, eu não queria falar assim, foi sem querer e...
Tarde demais, a amiga também desistira e desligara o telefone, depois daquele jato e ela não conseguira de novo, nem segurar nem terminar pra mudar de assunto.
Aquele descontrole tinha começado no meio do parque de diversões, e desde então era sempre no auge dos brinquedos e programas mais legais que ela vomitava suas reclamações e informações mais chatas, não importava em quantas outras coisas pensasse ou quão forte tapasse a boca. A varinha mágica jazia impotente no fundo de uma caixa de sapatos e as coisas lindas parece que escondiam... Chorar podia, sem risco de asneira. Até ele se compadeceu, lá no além do seu cansaço:
_ Ei, não fica assim! Eu gosto de você. O que aconteceu?
E aquela pergunta maldita ia rasgar o abraço bem no meio quando ela abrisse a boca, cuspindo sua academia irrefreável bem em cima da paciência dele. Às vezes parecia pior que eles não desligassem porque ela continuava ali com seu vazio soando ingrato, fazendo uma força pra silêncio que sempre deixava escapulir um termo técnico ou um suspiro.
Não queria mais brincar dessa coisa de pesadelo
tava ficando chato
tava dando medo
e tinha um monte de palavras legais guardadas e teimosas
poderia fazer mágica com elas se saíssem
Mas estava tropeçando numa língua salgada e rebuscada
palavras feias, de óculos aro grosso e aparelho freio-de-burro assombravam
Delirava... teria dormido na mesa de novo?
"Mamãe, eu não quero mais" (e ficou feliz de saber choramingar uma coisa normal que fosse)
_ Não me manda estudar!
_ Mas... eu não ia...
_ Eu já trabalhei hoje o dia inteiro, não tá bom? Não serve pra você?
Bateu a porta com força, e ela zonza, sem entender o que acontecia. Queria só cumprimentar, que grosso!
Pegou o telefone pra tentar com alguém alguma conversa decente, qualquer que fosse aquela hora e ficou horrorizada: ouviu jorrarem números e termos técnicos pela sua boca afora, sem que tivesse o menor controle das próprias palavras. Tentou explicar que entendia que ele quisesse mais aventura ou pelo menos mais movimento pros sábados à noite, ela entendia, de verdade, talvez até quisesse também e tanto! Era só que prova trabalho relatório reunião agenda horário remarcar cinco prazo cronograma exame tabela futuro regra lembrete caderno comida material dúvida contrato conta promessa contemplação projetos doença
_ AI! Olha, desculpa, eu não queria falar assim, foi sem querer e...
Tarde demais, a amiga também desistira e desligara o telefone, depois daquele jato e ela não conseguira de novo, nem segurar nem terminar pra mudar de assunto.
Aquele descontrole tinha começado no meio do parque de diversões, e desde então era sempre no auge dos brinquedos e programas mais legais que ela vomitava suas reclamações e informações mais chatas, não importava em quantas outras coisas pensasse ou quão forte tapasse a boca. A varinha mágica jazia impotente no fundo de uma caixa de sapatos e as coisas lindas parece que escondiam... Chorar podia, sem risco de asneira. Até ele se compadeceu, lá no além do seu cansaço:
_ Ei, não fica assim! Eu gosto de você. O que aconteceu?
E aquela pergunta maldita ia rasgar o abraço bem no meio quando ela abrisse a boca, cuspindo sua academia irrefreável bem em cima da paciência dele. Às vezes parecia pior que eles não desligassem porque ela continuava ali com seu vazio soando ingrato, fazendo uma força pra silêncio que sempre deixava escapulir um termo técnico ou um suspiro.
Não queria mais brincar dessa coisa de pesadelo
tava ficando chato
tava dando medo
e tinha um monte de palavras legais guardadas e teimosas
poderia fazer mágica com elas se saíssem
Mas estava tropeçando numa língua salgada e rebuscada
palavras feias, de óculos aro grosso e aparelho freio-de-burro assombravam
Delirava... teria dormido na mesa de novo?
"Mamãe, eu não quero mais" (e ficou feliz de saber choramingar uma coisa normal que fosse)
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